Para não esquecer

Esta NÃO É uma "Estória de Pai"! É uma história de marido...

Comecemos pelo princípio: a minha mais que tudo comprou bilhetes para irmos ver a Madonna. É verdade, ela conseguiu comprar bilhetes naqueles 3 dias em que eles estiveram à venda antes de esgotar. Não foi coisa que me entusiasmasse por aí além, confesso. Embora aprecie algumas músicas e algumas coisas que ela enquanto ser humano faz, não era por mim que ia comprar bilhetes para ir ao concerto. Mas como ela me parecia estar muito feliz... lá fui eu todo contente também.

A semana anterior foi para mim uma verdadeira loucura. Embora tenha estado de férias, passei os dias e as noites a trabalhar para a associação onde sou voluntário, de modo a apresentarmos uma completa modificação da proposta educativa para os jovens que temos. Dormi em média 4 horas /noite e a noite de 6ª para Sábado foi passada directa a ultimar pormenores. O dia de sábado foi todo passado a dar formação e a esclarecer dúvidas. O dia acabou às 02h da manhã de domingo... dia que tinha começado às 08 de 6ª!!

Domingo: dia M, de Madonna!
Após o almoço deixámos a criançada nos meus pais. Saímos já mais tarde do que tínhamos previsto (para não variar..), mas ainda assim muito a tempo de chegar a Lisboa.
Tendo em conta o cansaço que tinha pensei que seria melhor conduzir na viagem de ida e deixar a minha mulher trazer o carro na volta, de moda a dividirmos a viagem e já antecipando o cansaço que eu iria sentir à hora do regresso.
Parámos numa estação de serviço para meter combustível e tomar um café. Arrancámos novamente e 2kms à frente o carro começa a falhar... no computador de bordo aparece "falha na injecção"... e de repente fez-se luz! "Meti gasolina no carro em vez de gasóleo!!!".
Encostei... o desespero tomou conta de mim!
O cansaço... tanto cansaço... era para mim a explicação! E o desespero que se apossou de mim... o esforço que fiz durante toda uma semana para voluntariado estava a dar-me esta paga!
"O outro carro é a gasolina... enganei-me a por neste..."- dizia eu.

Liguei à assistência em viagem que ficaram de mandar um reboque e um táxi para nos levar a casa, dado que em casos de troca de combustível não nos levam até ao destino da viagem. Ficámos em plena auto- estrada à espera. Passada meia hora chegou o táxi, passada uma hora chegou o reboque. E foi um anjo que chegou: o homem perguntou qual era o problema e para onde ia o carro. Quando lhe disse que era troca de combustível ligou a uma oficina que estava aberta e acertou logo a limpeza do tanque e do motor. Disse que podíamos seguir viagem ainda nesse dia com o carro e a tempo de chegar ao concerto. Levou-nos à oficina onde o dono já tinha comprado gasóleo para não perdermos mais tempo. Fizeram-nos a operação e arrancámos às 19h, quase 3 horas depois de termos parado.

Chegámos ao concerto no final da primeira música da Madonna... vimos o resto todo!

Durante o concerto pude reflectir sobre o que se passou. E pude aperceber-me da Mulher absolutamente fantástica e maravilhosa que tenho: durante o processo todo (que foi só culpa minha) nunca me chateou. Apoiou-me sempre, quis sempre procurar a solução em vez de discutir o problema. Acarinhou-me, falou comigo e nunca me deixou sentir só.
Ela, que de facto era quem estava interessada em ir ao concerto!
E dei por mim a pensar que se a situação fosse ao contrário eu, se calhar, não tinha reagido assim. Se tivesse sido ela a enganar-se quando nos dirigíamos para algo que eu quisesse muito... nem quero pensar. Se calhar tinha disparatado, amuado... ou ambas! E mesmo que tivéssemos chegado a tempo (como chegámos) já não se aproveitava nada!
Foi uma grande lição que me foi dada por ela.
Até já lhe pedi que numa próxima vez em que eu esteja a ser injusto ela me recorde este episódio.
Foi mesmo uma grande lição de amor, de companheirismo, de amizade, dada por uma grande Mulher, com quem tenho a enorme felicidade de estar casado.