segunda-feira, janeiro 29, 2007

Jogo de escondidas - 2

Ao contrário do que se possa pensar a pequena não está a dormir.
Este é um conceito de camuflagem, segundo a minha filha, durante o referido jogo das escondidas.
Mais palavras para quê?...

Jogo de escondidas

- Ago(r)a és tu. Vai-te (es)conder, vai-te (es)conder.
- Tá bem. Eu vou-me esconder, mas não podes espreitar.
- Tá bem papá.
Lá fui e escondi-me atrás do sofá da sala...
- Já podes vir. Já estou escondido!
Ouço-a a procurar-me no hall. De repente sai-lhe esta:
- O papá não (es)tá no galinhei(r)o.
Será que ouvi bem?
Ela não deixa dúvidas:

- O papá não (es)tá no galinhei(r)o.

Dois pensamentos me assaltam:
1- Definitivamente nestes jogos que faço com ela o Lobo Mau não sou eu;
2- Ela arranja sempre uma forma subtil de me dizer o que pensa de mim. Só não tenho a certeza se me considera uma ave rara ou um "pato", por andar sempre a cair nas esparrelas que vai armando!

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Feitiozinho...

- Mariana, vai arrumar a tartaruga no teu quarto!
- Tá bem, papá.
E fez isto:Posso criticar? Não, pois claro que não!
Tecnicamente está dentro do quarto dela e também está mais arrumadinha que antes.
Ai Deus, acho que no futuro vou à falência com comprimidos para as dores de cabeça.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Adulto só complica!

Hoje aqui em casa ocorreu mais uma lição daquelas giras.
E digo gira porque, ao contrário do que é suposto, foi a pequena que me ensinou a mim e não o contrário.
Nós adultos temos uma tendência fabulosa para "ligar os complicadores".
Parece que nos está no sangue e até desconfio que deve ser marca indelével da condição de ser humano adulto.
Vem isto a propósito de esta manhã ter estado (mais uma vez) a fazer sala com a pequena enquanto ela via o Dumbo.
À medida que se aproximava o momento crítico comecei a ficar inquieto. Mas pensei que talvez hoje ela relevasse. Pois sim... lá veio a pergunta sacramental.
Contextualizando: o Dumbo descobre que consegue voar depois de apanhar um pifo monumental na companhia do seu amigo rato. A piela é de tal forma valente que eles acabam em cima de uma árvore o que, estou certo, é coisa para causar inveja a muito estudante em semana de Queima das Fitas...
Depois com a ajuda do rato e de um bando de corvos ele lá acaba por voar.
O problema está na forma como ele se enfrasca: o elefantinho emborracha-se porque bebe água de uma tina onde tinha caído uma garrafa de espumante.
Ora aqui é que está o busílis da questão, pois sempre que chegava a parte da água a pequena perguntava-me o que é que a água tinha.
E eu começava a patinar, hesitava, não lhe podia dizer que a água lhe fazia mal ou não prestava, porque com a incorporação de personagens animadas que ela faz, esse era um caminho que eu não queria seguir (corria o risco de ela se recusar a beber água alegando que era o Dumbo).
Hoje quando eu estava outra vez à rasca ela diz-me:
- A água tá suja não é, papá?
E eu fiquei ali, boquiaberto com a simplicidade da explicação que servia perfeitamente às duas partes.
E dou por mim a pensar onde é que foi exactamente que perdi esta capacidade de ver as coisas de uma forma tão simples e inocente.
No entanto não posso deixar de referir a grande alegria que sinto por poder voltar a ver as coisas desta forma, ainda que com a ajuda de um pequeno ser de dois anos e meio.

Irmãos e mimo

A mim, que sou filho único, sempre me fez um bocado de confusão aquela história de "os filhos mais novos são mais mimados".
Mas que diabo?... Se os pais são os mesmos, porque raio é que haveriam de ser mais mimados?
Começo agora a perceber.
A questão não tem a ver com dar ou não mimo, mas sim com o facto de sermos (ou tentarmos ser) criaturas inteligentes e, como tal, aprendermos com os nossos erros.
Apercebo-me disso quando me recordo que os primeiros berros que dei à pequena foi por volta dos 4 meses de idade dela.
Com o pequenito não foi assim. Aguentei-me até aos 5 meses e meio.
Será ele mais mimado que ela ou será ela que infelizmente tem que servir de cobaia ao meu crescimento como pai? Dúvidas...
Seja como for berraria à pequenada não é assunto que me deixe orgulhoso. De todo!

terça-feira, janeiro 23, 2007

Montanha russa

A vida de quem tem dois filhos, em alguns dias, assemelha-se a uma montanha russa emocional.
Tenho momentos em que me sinto um pai bestial. Normalmente quando lá desencanto paciência para pintar uns desenhos com a cachopa, jogar às escondidas pela casa ( e o conceito de escondidas dela é bem sui generis), ver pela enésima vez um filme do Pooh, ler um livro da Anita ou pintar a Kitty, jogar ao Bob ou à Dora no pc.
A recompensa vem quando ouço a pequenita a dizer "Ado(r)o-te pintar contigo, papá" ou simplesmente "Ado(r)o-te papá":

O problema é quando há pouca disponibilidade.
Nessas alturas passo de "bestial a besta" em nanossegundos: berro, gesticulo, expludo...
E com mais um salto de linguagem que ela deu nos últimos tempos, agora sou rapidamente reduzido à minha insignificância quando ouço "Eu não chateio-te papá, eu não chateio-te. Assim ficas contente?"

E aquela vozinha que me fica a martelar o juízo enquanto diz "És uma besta" ganha uma potência e durabilidade avassaladoras...

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Ditos populares

Se há coisa que aprecio na vida é a simplicidade.
Mas dentro deste tema há um com que não vou muito à bola: os ditos populares.
Porque se procurarmos com calma verificamos que se a vida fosse vivida dessa forma era uma coisa sem sabor, um bocadinho insípida. No fundo era só esperar para ver.
Exemplos: "Candeia que vai à frente alumia duas vezes" vs "Os últimos serão sempre os primeiros"; "Quem espera desespera" vs "Quem espera sempre alcança"...
Vem isto a propósito do que vou sentindo durante esta semana. A pequena está doente.
Felizmente tal não tem sido nada comum. Só me lembro de uma pequena febre quando ela fez seis meses, de resto tem tido uma saúde de ferro.
Mas esta semana apareceu, provavelmente, uma virose (uma amiga minha diz que uma virose é o nome de todas as doenças que os médicos não conseguem diagnosticar): febre e diarreia.
Claro que muitas pessoas dizem logo: "ela tem sorte, com dois enfermeiros em casa..."
Pois... sim e não!
Sim, porque evidentemente temos conhecimentos para não desatar numa correria louca e desenfreada para a Urgência do hospital (atulhada de miúdos doentes, o que provavelmente lhe causaria mais dano).
Controlar a febre, ver sinais de desidratação, mudar fraldas frequentemente (muito frequentemente, demasiado até de tal forma que se calhar tenho que pedir um empréstimo no banco para fraldas), pomada para prevenir assaduras e... mimo. Muito!
Não, porque não há curso nenhum que nos ensine a lidar com o nosso sofrimento.
Na nossa profissão aprendemos a lidar com o sofrimento dos outros (com um brutal desgaste psicológico a que ninguém liga, mas enfim...), mas lidar com o nosso sofrimento (porque o sofrimento dos meus filhos é o meu sofrimento) é bem diferente.

E tenho que dar a mão à palmatória e aceitar que "Pimenta no cu do outro é refresco no meu".

domingo, janeiro 14, 2007

Clássico Literário

Quando começámos a projectar a ideia de gerar descendência tomámos várias decisões.
Evidentemente umas foram mais acertadas do que outras.
Por exemplo a ideia de pôr os pequenos a comer à mesa sem verem Tv. sucumbiu à custa de choro e berreiro consecutivos. Quando descobri a tranquilidade que um dvd introduz nestes momentos rendi-me.
Mas uma decisão que temos conseguido levar avante foi a de implementar o gosto pela leitura.
Há uns anos fiz uma colecção do Público de clássicos da literatura juvenil. Aquilo tem lá uma série de livros bem catitas como o Peter Pan, Moby Dick, O Livro da Selva, Alice no País das Maravilhas e muitos outros.
Por estes dias reparei que não tem nenhum daqueles clássicos infanto-juvenis de terror.
E dou por mim a agradecer aos tipos do Público por isso, porque no fundo eles não me queriam fazer sofrer em antecipação...
É que actualmente vivo aqui em casa o clássico "Dr. Jekyll e Mr. Hyde"!
O pequeno é extraordinariamente tranquilo.
Até posso dizer que muitas vezes nem se dá por ele (em sentido figurado obviamente).
Mas se por acaso o cachopo acha que está na hora de comer... ó meus amigos, fujam da frente!
Transforma-se radicalmente: abre aquelas goelas, berra como se não houvesse amanhã, os olhos faíscam...
E isto só acalma quando ele já tem mais de metade da dose no bucho, porque até lá a nossa única preocupação é sermos suficientemente rápidos a dar-lhe a comida para ver se ele não fica mesmo um Hyde em pequena escala.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Maturidade

É frequente perguntarem-me como é que a pequena reagiu ao facto de ter um irmão e, consequentemente, ter deixado de ter toda a atenção dirigida só para ela.
Todos me perguntam se ela tem ciúmes dele, se lhe fala mal, etc., etc.
Quando me fazem essas perguntas dou por mim a pensar que há algumas coisas que são mais ou menos evidentes: um chorinho despropositado, uma clemência por um colo, o pedido para ler uma história como se fosse a coisa mais importante do mundo...
Mas se acho que isso são ciúmes? Não, de todo.
Até porque, bem pelo contrário, ela me vai dando provas de uma imensa maturidade.
Como?
Simples... quando eu estou com o piolho ao colo ela vem muitas vezes de braços abertos a dizer:
- Os dois ao colo, os dois ao colo!

Isto é para mim uma prova evidente da maturidade dela.
Como ela está ciente que isto não está fácil e o custo de vida sobe assustadoramente, ela quer, desta forma simples, fazer com que o pai não gaste uns cobres valentes no ginásio a cuidar do físico.
A minha (nossa) sorte é que eu nunca engracei com figuras do estilo Stallone ou Schwarzenegger, caso contrário já estaria a fazer conta a mais dois filhos, de maneira a ter os quatro membros preenchidos e bem musculados com tanto exercício...
Safa!

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Sempre a ajudar

Felizmente cá em casa nenhum de nós tem paranóia de dietas.
Tentamos fazer uma alimentação saudável, mas sem grande sucesso. Peixe é coisa que comemos pouco, admito.
Como tal dieta é coisa que não vai muito à bola connosco.
Mas admito que há que tomar alguns cuidados.
E há dias em que quase me sinto como o caixote de lixo dos Flinstones: sou "obrigado" a comer os restos da papa do rapaz e também da pequena, que agora deu em querer comer papa outra vez.
É um sacrifício do caraças...
Depois está um tipo calmamente a almoçar a sua refeição fazendo-a acompanhar de pão (porque nas palavras do meu avô "comer sem pão é comer de lambão") e tem que ouvir uma fedelha a rir-se e a dizer:
- Eheh! O papá tá a comer pão. Eheheh, depois fica ba(rr)igudo!

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Se o pequeno falasse

Já descrevi aquilo que sinto acerca do rapaz se ter iniciado em alimentos sólidos aqui.
Ele agora tem 5 meses e, como é óbvio, ainda não fala.
Mas não fala por palavras, porque aqueles olhos já querem dizer muita coisa...
No início das papas diziam: "quero a minha mama de volta!"
Fulminavam-nos, trespassavam-nos aqueles dois olhitos brilhantes, transmitindo-nos de forma muito clara a seguinte mensagem:
"Mas que raio de mistela é esta? Como é que me podem fazer isto? Será que ainda se lembram quem eu sou? EU SOU O VOSSO FILHO!!!"

A pouco e pouco lá se foi habituando à coisa e entrou na fase "afinal-isto-até-nem-é-mau-mas maminha-no-fim-sabe-sempre-bem".

Agora aqueles olhos já transmitem uma mensagem bem diferente quando se lhe põe um prato de papa à frente, se bem que não aquela que eu imaginava.
Eu estava à espera de algo parecido com felicidade, serenidade, etc.
Afinal aquilo que encontro é mais algo do género "Tá-a-despachar-anda-lá-com-isso-que-isto-afinal-é-bom-como-o-raio".
É a chamada fase do "atiro-me de cabeça se demoras muito".

Caça

Isto é coisa que não consigo apreciar.
Eu sei que alguns até a entendem como desporto, mas eu não.
O problema deve ser meu de certeza. Sou um esquisito...
Eu até já tentei mas quando vi na tv um caçador a dar uma entrevista e a dizer que "caçador que é caçador dá toda a vantagem às presas", desisti.
Desisti porque não consegui perceber como é que um tipo que se enfia no mato de camuflado, com uma arma com mira telescópica (ou até laser) capaz de acertar no bicho a 300 mt, um cão que lhe fareja a presa a dois quilómetros de distância, outro que lhe aponta onde ela está e outro que lha vai buscar, está em vantagem sobre a pobre perdiz que andava na sua vidinha. Mas enfim... como já disse, devo ser eu que sou esquisito.
Mas tenho que dar a mão à palmatória: a caça é um desporto em voga cá em casa.
O problema é que a presa, a maior parte das vezes, sou eu...
Uma das coisas que gosto de ver na pequena é a forma como ela aprendeu bem o nome dos animais. Desde elefantes a hipopótamos, passando por cangurus, etc., etc.
E é engraçado como ela vai distinguindo entre o elefante bebé e os outros maiores.
Daí que há uns dias fiquei espantado quando ela disse:
- O Ped(r)o é um cavalo.
Eu fiquei à espera que viesse "cavalo pequenino", mas não, ficou-se por cavalo.
Eu já devia perceber que vinha ali estória...
Mas caí na armadilha que ela, calmamente, vinha a tecer. Inocentemente, fui na esparrela e perguntei:
- Olha lá, se o Pedro é um cavalo o que é que eu sou?
Estava à espera de lhe fazer ver que a frase dela não estava completa.
Pois sim... assim que lhe disse aquilo quase que vi um brilho de regozijo antecipado nos olhos dela. E disse-me:
- Tu és um bu(rr)o!

Eu bem sabia que há razões muito fortes para não gostar de caça!

terça-feira, janeiro 02, 2007

Mundo em 2006

Dado o meu feitio um bocado intempestivo gosto de, por vezes, deixar passar algum tempo a reflectir sobre as coisas antes de dizer algo.
Claro que à conta disto sou acusado de ser calado, antipático, pouco dado, etc, etc.
Mas vem isto a propósito de um artigo que li há uns domingos na revista do JN.
Nesse artigo vinha a seguinte informação: cerca de 75% (setenta e cinco) das empresas no Reino Unido tinham pura e simplesmente proibido que os trabalhadores enfeitassem qualquer local das empresas com motivos alusivos ao Natal.
Motivo: os CEO's dessas empresas não queriam correr o risco de serem processados por empregados que professassem outras religiões que não a católica e que, como tal, se sentissem ofendidos pelos símbolos natalícios!
E aquilo fez-me espécie...
Pergunto-me: que raio de mundo é este que estamos a criar em que em vez de eu me alegrar por ver o meu colega/vizinho/conhecido feliz, fico mas é furioso e vejo a alegria dele como um atentado pessoal à minha liberdade e à minha própria alegria?
Não seria muito mais fácil chegar ao pé dele e dizer-lhe: "Olha fico contente por estares a viver uma época de alegria para ti. Espero que quando eu viver a minha também fiques feliz por mim."
Mas parece que isto é muito difícil de fazer.
Triste mundo este em 2006, tão cheio de coisas que nos ligam globalmente, tão cheio de coisinhas que nos afastam de quem está mesmo, mesmo ao nosso lado.
Afinal parece que nem mesmo o Natal é quando o Homem quiser, é só quando o vizinho não se incomodar...

Novos significados

Domingo passado lá fui acompanhar a senhora minha esposa numa das suas tradições da quadra natalícia: ir com as afilhadas (as três) ao cinema.
É uma tradição já com uns aninhos, que se iniciou com elas ainda bem pequenitas, e que se mantém com um enorme gosto de ambas as partes. Ainda pensei levar o meu afilhado, mas ele já tinha visto o filme (Por água abaixo), de modo que... fica para a próxima.
A logística necessária para se levar a cabo a tarefa foi aturada.
É que este ano houve dois embrulhos para ficarem a cargo...Contactos prévios com as avós para ver quem ficava onde e tal, de maneira a que todos ficassem felizes...
Lá fomos para o cinema.
E quando lá cheguei é que me apercebi que tinha deixado os pequenos, mas ainda não tinha desligado o "modo pai".
Assim que ouvi um choro de bebé, accionaram-se as campainhas, sirenes a uivar, alarmes a zunir, pescoço todo torcido à procura do motivo... e de repente foi como se me tivessem esbofeteado!

Não era para nós. Por umas horas estávamos livres daquelas aflições.
Podia até dar-me ao luxo de ver as figuras que (muitas vezes) devo fazer.

E de repente a palavra leveza ganhou todo um novo significado...
É incrível como pirralhos tão pequenos nos podem fazer sentir coisas tão antagónicas!