sexta-feira, março 30, 2007

Post de gajo

Uma das coisas que aprecio bastante é futebol. Sou adepto do Futebol Clube do Porto. E ferrenho! Embora, pelo que me vou apercebendo, ferrenho de uma maneira estranha: não discuto com ninguém, não provoco, não gozo. Celebro as vitórias com alegria ordeira e sofro com as derrotas de forma intensa, angustiante, mas sem incomodar ninguém. Não saio de casa para ir ver jogos pela tv, mas defendo intransigentemente o meu clube.
Claro que, com esta maneira de ser, gostava muito que os meus filhotes fossem portistas. Quando me imaginava pai uma das coisas que pensava era em levar os pequenos pela mão e às cavalitas ver um jogo às Antas, agora ao Dragão. Dos momentos mais agradáveis que me recordo da minha infância é de ir tirar uma foto com o meu pai a levar-me pela mão e eu equipado à Porto. Meu Deus, eu devia ter uns 3 ou 4 anos e continuo a lembrar-me bem disso, da alegria que ia dentro de mim. Ainda hoje um dos motivos para boas conversas com o meu pai tem a ver com jogos do Porto.
Só que, infelizmente, parece-me que eu vivo na capital de um país que se chama "Sou-de-qualquer-clube-menos-do-Porto". De modo que acho que esta pode muito bem vir a ser uma batalha perdida.
É que eu sou absolutamente incapaz de dizer a um miúdo o que ouço muitos dizerem: "Olha lá tu és do x clube, que esse é que é bom, não és? O clube y não presta". Sou incapaz, nunca o fiz e não penso fazê-lo, mas há muita gente que o faz, inclusivamente à minha frente e eu fico ali um bocado embasbacado com tamanha "falta de chá".
É que eu não o faço precisamente por me recordar da alegria partilhada que vivi com o meu pai durante a minha infância e imagino a tristeza que seria para ele que eu fosse de outro clube. Não consigo imaginar estar em casa e andar a "dar baile" ao meu pai por causa de uma derrota ou vitória, por sermos de clubes diferentes. De maneira que se um miúdo me diz que é de um clube x ou y diferente do meu ( muitas vezes com o pai por trás a rir-se para me picar) eu digo-lhe: "Fazes muito bem. Esse clube é bom."

Tenho muita gente que me diz: "Tu és doido, não ligues a isso". A essas pessoas eu respondo com um sorriso amarelo... porque são essas mesmas pessoas que:
1- vivem em locais onde nem se coloca a hipótese dos filhos serem de outras cores;
2- compram equipamentos do clube aos filhos mal eles nascem ( e eu não o fiz);
Depois vêm dizer-me para não ligar a isso...
Uma coisa é certa: vou fazer o possível para que sejam portistas. Se não forem... tenho pena, mas continuarei a amá-los da mesma forma!

segunda-feira, março 26, 2007

Segurança privada

Por estes dias ando verdadeiramente pelas ruas da amargura, exausto física e psicologicamente muito por culpa da malfadada monografia que irei entregar esta semana. No entanto e para me relembrar que "can´t rain all the time", como dizem num dos meus filmes de eleição (The Crow, com Brandon Lee), recebi um verdadeiro "boost" ao meu ego, simpatia da princesa cá da casa.
A história é simples: há uns meses quando recebeu um dvd do Pooh houve um dos episódios que a assustou. Metia árvores e a sombra do Piglet andava em bolandas...Vai daí ela apanhou medo às sombras.
Então na semana passada, quando subíamos da garagem para casa, ela decidiu armar-se em Dora a Exploradora e quis fazer a subida unicamente com a luz vinda do meu porta chaves, que tem um pequeno led (devaneios de escuteirada...). A dada altura do caminho projectaram-se (naturalmente) sombras na parede. Eu já estava a imaginar a minha vida a andar para trás, mas... eis que de repente ela me diz:
- Não tenhas medo, papá. São somb(r)as. Não tenhas medo, eu tou contigo!
E eu fiquei ali completamente embasbacado! Então não é que de repente sou um gajo importante, que até já tenho direito a segurança privada para me proteger?
E fiquei de peito feito... até me lembrar que se a importância dos VIP´s se medir pelo "cabedal" dos seus seguranças, então estou tramado!
Mas tratei logo de afastar estes pensamentos da cabeça: sou um gajo importante!
A preocupação com o "caparro" dos seguranças é mesmo coisa de quem está cansado de tanto trabalho...

segunda-feira, março 19, 2007

A "estóia" do papagaio

Esta é a célebre "estóia do papagaio" que a pequena me pede sempre que conte quando a vou adormecer. É um bocadito longa, mas acho que vai ser giro quando um dia me pedires para te contar uma estória de quando eras pequenina. Uma era esta:
"Certo dia no Bosque dos 100 Acres o Piglet foi ter com o seu amigo Pooh:
- Olá Pooh!
- Olá Piglet!
- Pooh, resolvi passar aqui para brincar contigo com um papagaio de papel.
- Excelente ideia, Piglet! Vamos então brincar. Onde tens o papagaio?
Mas o Piglet não tinha nenhum papagaio:
- Sabes, Urso Pooh, eu tinha vindo aqui na esperança que tu tivesses um para brincarmos. Eu não tenho.
- Oh Piglet foi uma boa ideia, mas eu também não tenho nenhum papagaio de papel.
E o Piglet ficou triste. O Pooh disse:
- Eu acho que sei quem nos pode ajudar.
- Quem? - perguntou o Piglet.
- O Coelho. Ele tem muitas coisas guardadas em casa dele. Pode ter um papagaio de papel. - disse o Pooh.
E o Pooh e o Piglet foram a casa do Coelho. Ele estava a trabalhar na horta. Quando os viu disse:
- Nem mais um passo. Não quero ninguém na minha horta!
- Oh Coelho, nós só queríamos pedir-te uma coisa - disse o Pooh.
- Uma coisa? Que coisa?
E o Pooh e o Piglet explicaram ao Coelho que queriam brincar com um papagaio de papel mas não tinham um. O Coelho disse:
- Foi uma boa ideia terem vindo ter comigo mas, infelizmente, não tenho nenhum papagaio de papel. O Pooh e o Piglet ficaram tristes. Mas o Coelho disse:
- Mas eu acho que sei quem vos pode ajudar.
- Quem?
- A Kanga. Ela tem muitos brinquedos para o Roo brincar. Pode também ter um papagaio de papel.
- Boa ideia, Coelho. Vamos a casa da Kanga.
E assim o Coelho, o Pooh e o Piglet foram para casa da Kanga. Quando estavam a chegar lá viram o Roo e o Tigre a jogar ao jogo dos balões, a darem saltos para ver quem apanhava mais.
- Olá amigos - disse o Roo.
- Olá, Roo. Olá Tigre. Roo, a tua mãe está cá? - erguntou o Pooh.
- Está sim. O que querem dela?
- Queríamos que ela nos emprestasse uma coisa. Queríamos brincar com um papagaio de papel - disse o Piglet.
- Brincar com papagaios de papel é a especialidade dos tigres - disse o Tigre.
Nessa altura a Kanga apareceu:
- Olá queridos.
- Oh, ela chamou-nos queridos - disse o Tigre.
- Chegaram mesmo a tempo do lanche. Acabei de fazer umas bolachinhas. Querem?
- A barriga está a dizer que sim - disse o Pooh.
No final do lanche lá explicaram à Kanga o que queriam. Ela disse:
- Oh meus queridos, eu gostava muito de vos ajudar mas não tenho um papagaio de papel. Lamento.
E todos ficaram muito tristes.
- Mas acho que sei quem vos pode ajudar.
- Quem?- perguntaram todos.
- O Christopher Robbin. Ele anda sempre a inventar brincadeiras e deve ter um papagaio de papel para vocês brincarem.
- Vamos a casa dele - disse o Coelho.
No caminho encontraram o Igor, explicaram-lhe onde iam e ele também foi. Quando lá chegaram chamaram:
- Christopher Robbin! Christopher Robbin!
Ela, quando os ouviu veio à janela:
- Olá, amigos. Esperem que eu já desço.
Quando chegou ao pé deles explicaram-lhe o que queriam. E ele disse:
- Vou fazer ainda melhor. Vou ensinar-vos a fazer um papagaio de papel.
E então o Christopher Robbin foi a casa e trouxe o material necessário: papel, fio, pauzinhos e cola. Ensinou os amigos a fazerem um papagaio de papel cada um e, no final, todos tinham o seu.
Ficaram muito contentes a brincar com eles até ao fim do dia."

Acabou.
Um beijinho, boa noite e agora já podes dormir. Até amanhã!

70 virgens não serão...

Há alturas em que, honestamente, me pergunto se esta tarefa de ser pai não encerra uma qualquer prova de aptidão mítica, que nos prepare para uma coisa qualquer maior, superior, maior que a própria vida...
Pergunto-me isto depois de, por exemplo, ser submetido a uma tortura com verdadeiros requintes de malvadez como esta: o almoço foi um magnífico pedaço de carne assada no forno, com batatinhas também assadas e um arroz muito bem regado com o molho do assado. No final um cafezinho de estalo!
E no fim de tudo isto, quando as papilas gustativas ainda estão a recuperar desta orgia de sabores, eis que deixo aquecer demais a sopa de peixe do puto (de peixe e sem sal), e tenho que andar a pôr aquela mistela à boca para ver quando está em condições de lha poder dar sem perigo.
Mas o melhor, a cereja no topo do bolo: ele mandou-ma comer a mim. A expressão de desagrado que ele fazia a cada colher devia ser inspirada na minha, pelo que tive que desistir.
É tal e qual como eu dizia: tortura e com requintes de malvadez.
Estou para ver qual é a minha recompensa superior por passar estas provas desumanas!

quarta-feira, março 14, 2007

Longos dias

A miúda alça o rabo da cama, invariavelmente, antes das 8.30h.
E isto, para quem como eu é do tipo mocho (estou mais acordado à noite do que de manhã), parte-me todo.
Depois ocorre o habitual do dia a dia: bonecos, pinturas, taças de Chocapic com leite derrubadas no chão da sala, correrias desenfreadas pela casa para não mudar uma fralda que é uma verdadeira arma química, birras, pedidos, enfim... o habitual.
Ontem, que ela esteve na avó materna, conseguiu a proeza de dormir três horas de tarde. Ora quando está connosco isto nunca acontece. Evidentemente que ficámos felizes, pois o sono deu-lhe uma boa disposição extraordinária. Mas nisto de crianças (como em tudo o resto afinal) "não há almoços grátis"... eram 22.20h e ela insistia em fazer o jogo do sofá, que consiste basicamente em eu ficar deitado e ela mandar-se em vôo de um dos braços do sofá para cima de mim!!
Depois lá acedeu a ir dormir. Tive que lhe contar a "estóia do papagaio" e depois remeti-me ao silêncio à espera...
Quando abri o olho Sua Excelência estava calmamente a brincar com as mãos, com os dedos, a rodar os pulsos, etc.
É por causa de coisas destas que muitas vezes, se a vou adormecer depois de um dia em que sou acordado (muito) mais cedo do que gostaria, desperto lá pelas 3 ou 4 da madrugada, apercebo-me que já dormi uma boa parte da noite com camisa, calças, meias, etc. e arrasto-me para a minha cama em modo "piloto automático".
Ser pai dá todo um novo significado à palavra conforto...

terça-feira, março 13, 2007

O Ninja

Quando eu era puto estavam em voga os filmes do Chuck Norris (ou pelo menos estavam em voga dentro do meu círculo de amizades). Aquilo era uma coisa engraçada: por qualquer pretexto havia porrada. E claro na altura todos nós nos sentíamos verdadeiros heróis a lutar contra esquadrões de ninjas, esses assassinos silenciosos, treinados com um único objectivo: aniquilar.
Hoje dou por bem empregue esse tempo em que as nossas brincadeiras consistiam em esquivarmo-nos de golpes tão mortíferos quanto imaginários. E dou esse tempo por bem empregue porque é o que tenho que fazer hoje em dia, variadíssimas vezes.
É que o pequeno desenvolveu um estranho hábito: mal fica ao colo de alguém toca logo de arrepanhar uma bochecha, beliscar a sobrancelha, esmifrar um lábio ou (a cereja no topo do bolo) enfiar aqueles dedinhos afiados como adagas bem fundo pelas narinas adentro.
Não haja dúvida que o rapaz é um ninja em potência!!
Ah grande Chuck Norris, se não tivesses sido tu como é que eu conseguiria passar por estas torturas sem dizer um ai e desta forma conseguir evitar que os vizinhos me ponham uma acção de despejo pelos gritos de dor?

sábado, março 10, 2007

Motores

Ontem à noite, esgotados de mais um dia, lá conseguimos ter a nossa conversinha de 5 minutos. Conversa essa que aconteceu em pleno "vale dos lençóis". Quando já estávamos mais para lá do que para cá, a mamã sai-se com esta:
- Eu acho que quando tinha a idade dele, a Mariana mexia-se muito mais a dormir.
Ora uma afirmação destas, aquela hora da noite, não me podia deixar sossegado.
Pensei, remoí e depois disse:
- Já percebi porquê: ele, tendo em conta o que come e o que se mexe é um motor de elevado consumo. Ela por outro lado é um motor de elevado rendimento, consome pouco e mexe muito, é um verdadeiro motor ecológico!!
Enfim... só mesmo de gajo para comparar os filhos a motores!
Mas as gargalhadas da minha mulher foram uma bela maneira de terminar o dia!

terça-feira, março 06, 2007

Lobos

Não raras vezes sou atingido por aquela sensação "se arrependimento matasse"...
Quando o pequenito nasceu "trouxe" de prenda à irmã um DVD das "Histórias da Carochinha". Julgámos que seria uma boa opção, uma vez que ela era uma enorme fã dos dvd´s das músicas.
A primeira vez que ela viu o dvd tive o cuidado de estar ao lado dela para lhe ir explicando as coisas que apareciam. Tudo correu bem... até chegar a história dos 3 porquinhos. Quando apareceu o lobo a expressão de medo na face, a inquietação, eram sinais que a coisa não ia correr bem.
Eu bem tentei explicar-lhe que o lobo não apanhava os porquinhos e que o caçador o mandava embora. Pois sim. Esforço inglório.
Apanhou medo e o dvd repousa na prateleira, em estado quase novo.
Mas o medo ficou. E serve de justificação para diversas atitudes.
A que eu achei mais incrível foi quando estava num site de jogos, a fazer uma casinha com o Bob o Construtor e ela, quando chegou a altura de pôr o telhado, pura e simplesmente recusou-se. Quando lhe perguntei o porquê, respondeu calmamente:
- É pa(ra) não vi(r) lobos!
Desde aí ela desenvolveu uma verdadeira "caça à porta aberta". Mal vê uma porta aberta (qualquer uma, seja de uma divisão ou da máquina de lavar roupa), toca logo de a ir fechar, independentemente de nos atrapalhar ou não a tarefa que estamos a fazer. A justificação é sempre a mesma: "pa(ra) não vi(r) lobos!"
Ontem chegou-se a altura de efectuar uma mudança de fralda (que ela continua a evitar a todo o custo) e lá me disse:
- Não que(r)o, papá. É que depois vem um lobo e pica.
Um lobo e pica??!! Pica??!!

Filha, do fundo do coração: o pai não deixa vir lobo nenhum.
Mas também podes ter certeza de uma coisa: muito rapidamente (mas mesmo muito) o lobo se ia aperceber que por baixo dessa pele de cordeiro está uma "loba" levada do diabo, que se calhar lhe ia dar mais dores de cabeça que qualquer outra...

domingo, março 04, 2007

Elementar, meu caro Watson

- Psst, ó pequena, como é o teu nome todo?
- Ma(r)iana J...C...
- Muito bem! E o nome do papá?
- Papá J...C... e a mamã é Mamã J...C...

A tentativa até tem a sua lógica, mas erra nas duas hipóteses.
Mas não haja dúvidas: se o mundo fosse feito pelas crianças era tudo em linha recta!... Quais curvas, quais cruzamentos, qual carapuça...

quinta-feira, março 01, 2007

Problema sério

Mais um triénio de serviço que se cumpriu e é hora de avaliação de desempenho.
Agora pergunto: como é que é possível manter a motivação para trabalhar numa altura tão sensível como esta, quando se tem uma pequenita a trepar-nos pelas pernas e a dizer "Não vás t(r)abalha(r), papá. Fica aqui comigo."????